Liberdade

17 fevereiro, 2023

   O conceito de liberdade é muitas vezes superestimado e se perde em narrativas e posturas cada vez mais questionáveis e egoístas em relação a tudo o que deveria servir de base, como o caráter, a ética, a moral... Temos uma crença hoje errônea e simplória de que ser livre é poder fazer qualquer coisa, romper com regras sociais e impor nossa vontade sobre a do outro simplesmente por nos entendermos como exceção, como vítima, como minoria, ainda mais, em tempos contemporâneos onde o "não" serve ao outro e não a mim, literalmente!

   Essa crença vem ao encontro da representação cultural pensada e arquitetada para estabelecer, aí sim, aquilo que a liberdade mais abomina, que é a escravidão a nossos vícios e limitações pessoais, juntando-se a outros com o mesmo olhar distorcido de si mesmos, na vã tentativa de fortalecer uma identidade sólida, com cacos ideológicos que servem somente a tapar buracos, mas não complementá-los.

    O que temos hoje é um exercício ininterrupto de um narcisismo desmedido que se encontra perdido numa utopia existencial esvaziada de sentido e de conteúdos que perigosamente seduzem mentes ansiosas de algo que as complete.

    O sentido de nossa existência se dá, num primeiro plano, na contenção, na limitação, na compreensão de uma barreira natural de nossos corpos como aquilo que detém o que há de mais precioso em nós: nossa vida.

    Quando nascemos precisamos imediatamente do outro para se compreender como alguém dentro desse novo mundo fora do ventre materno, a primeira barreira de segurança agora perdida, mas readquirida na proteção de nossos pais, de cuidadores, dando suporte e manutenção à nossa frágil existência. Diante do afeto, do toque, dos cuidados e da proteção junto ao bebê, aprendemos pouco a pouco quem realmente somos, nossa busca de sentido nessa experiência sensorial ainda distante de elucubrações racionais elaboradas. 

    Da mesma forma, uma leitura que se pode fazer sobre o choro de um bebê faminto, ou no grito manifesto de um adulto por sua "liberdade", pode-se ouvir, aí sim, um pedido de atenção intrínseco, ainda que desapercebido, no sentido de aplacar a angústia gerada no desconforto e no sofrimento que a desestrutura causa. 

    Não entendemos que crescemos buscando um limite pessoal que nos permite entender quem realmente somos, voltando para si e para a estruturação de uma identidade sólida que possa suportar o mundo a sua volta sem limitações que necessitem de ilusões criadas para dar falsa sensação de equilíbrio. O limite força-nos a questionar quem somos diante de nós mesmos e dos outros, entendendo que não vivemos isolados, apesar de sermos únicos, e que a liberdade de um termina onde começa a do outro, e vice-versa, criando um equilíbrio possível e tangível nas relações humanas.

    Uma "liberdade" sem limites é girar uma roleta-russa de possibilidades que podem dar muito errado. 

    Entender nosso limite físico e psíquico diante da vida, do outro e do mundo ao nosso redor, faz toda a diferença para a manutenção de uma vida minimamente saudável e equilibrada a todos, sem a necessidade de imposições, sem crenças em "verdades" ludibriosas e, principalmente, sem a diluição pessoal desse ser tão ávido em simplesmente ser.


 

Caixa de Pandora

13 fevereiro, 2023


    A humanidade caminha a passos largos no que diz respeito à evolução tecnológica, gabando-se de seus feitos extraordinários e dos rumos que seguem, impulsionados por sobressaltos cada vez mais altos e velozes nesse sentido.

  A Internet das Coisas, como nomeiam, alimenta o apetite insaciável do ser humano que a tudo devora, deixando com um narcisismo potencialmente perigoso, deixando de lado premissas fundamentais de tudo mais que faz de nós aquilo que somos: orgânicos, tridimensionais, sociais e sensoriais.

    Engana-se quem crê que esse universo virtual aproxima pessoas, que proporciona felicidade e que desenvolve mentes das novas gerações. Como tudo nesse mundo de faz de conta, a ilusão é a única coisa concreta que se tem certeza.

    Os excessos que desfrutamos sem limite dessa "realidade" têm despertado o melhor e o pior que há em nós.

Infelizmente não possuímos maturidade psíquica para lidar com os desdobramentos que essa internet de todas as coisas nos dá, e não creio que teremos um dia.

    Deixamo-nos absorver por esse ser disforme e sem vida, que não sente empatia, cujo objetivo é retirar a identidade que possuímos e que nos faz indivíduos, únicos, tomando, ainda, em troca para si, aquilo que mais prezamos, que é nossa individualidade, transformando-nos naquilo que lhe constitui: uma coisa.

    Hoje é comum olhar para a mesa ao lado num restaurante, e assistir a adultos desfrutando um belo jantar, na companhia de outros, porém, mergulhados em seus smartphones, balbuciando uma palavra aqui e outra ali, vez ou outra, ou assistir a pais mudos, focados em seus pratos cheios e em seus corações vazios, deixando seus filhos imersos e distraídos nos desenhos infantis que os aparelhos reproduzem sem parar.

    Depois de aberta a Caixa de Pandora, nada mais é o mesmo, e aquilo que foi liberto de lá, não volta.

    O que nos resta?

    Resta-nos a esperança de colocar a mão em nossas consciências e rever essas "todas as coisas" que se abriram diante de nós, para entender que o mundo real está aqui, agora, em mim, em você e no outro, nas relações concretas e nos sentimentos verdadeiros expressos no olhar, no toque, no beijo, no carinho, na palavra, no amor que só um ser humano é capaz de dar ao outro, porém, de verdade.

    Que essas tecnologias ocupem em nossas vidas sim somente a posição de ferramentas, de coisas como propõe, e nada mais.


Pandora - John William Waterhouse - 1896

 

Boas vindas...

13 fevereiro, 2023

Gostaria de agradecer a sua visita ao site e dizer que aqui vou dividir com você um pouco daquilo que acredito poder contribuir para nosso crescimento pessoal nessa jornada única e comum a todos, que se inicia muito antes do nascimento e que termina no último sopro de vida, compartilhando pensamentos e reflexões que possam dar algum sentido à vida, tornando-a uma experiência que valha a pena.

Como psicólogo clínico, me coloco à disposição para maiores informações.

Obrigado!